Como usar o crédito pessoal de forma responsável

A nova diretiva adotada pelo Conselho da União Europeia visa reforçar a proteção dos consumidores que solicitam créditos. Não obstante, o consumidor deve fazer a sua parte para evitar endividamentos, nomeadamente com crédito pessoal.

A União Europeia (UE) está empenhada em reforçar e alargar as medidas relacionadas com a concessão de crédito responsável aos consumidores europeus. No dia 10 de outubro, o Conselho da UE anunciou uma nova diretiva sobre crédito ao consumo, que destaca a necessidade de proteger os consumidores contra práticas de empréstimo irresponsáveis.

O objetivo principal da nova diretiva é garantir que os consumidores recebam todas as informações necessárias de forma clara, inclusive em relação à solicitação de créditos de pequeno valor. Entre as principais medidas, estão:

  • Apresentação clara e compreensível das informações sobre o crédito, incluindo o custo total, adaptadas a dispositivos digitais;
  • Regras publicitárias mais rigorosas para combater o crédito abusivo a consumidores sobreendividados, com medidas eficazes contra o sobrecomissionamento;
  • Avaliação obrigatória, por parte de bancos e instituições financeiras, da capacidade dos consumidores de pagar o crédito, com vista a prevenir o sobreendividamento;
  • Ampliação da aplicação da diretiva aos contratos de crédito ao consumidor para empréstimos abaixo de 200€ e produtos “compre agora e pague depois”;
  • Concessão aos consumidores do direito de rescindir um contrato de crédito até 14 dias, além de garantias específicas para sobreviventes de cancro na contratação de produtos financeiros e seguros.

Apesar das novas medidas que o beneficiam, em paralelo, é crucial que o consumidor compreenda como utilizar o crédito pessoal de maneira responsável e consciente. O crédito pessoal é uma ferramenta financeira valiosa que pode ajudar a lidar com imprevistos, realizar projetos importantes e concretizar sonhos de longa data. No entanto, a sua utilização requer uma abordagem cuidadosa para evitar armadilhas financeiras.

Antes de procurar um crédito pessoal é preciso seguires um planeamento
Antes de procurar um crédito pessoal é preciso seguires um planeamento

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Planeamento financeiro: a base para um uso responsável do crédito pessoal

Antes de considerares alternativas para o crédito, é fundamental teres uma visão clara e realista das tuas Finanças Pessoais.

Estrutura o teu orçamento pessoal

Um orçamento bem estruturado é o primeiro passo para teres uma visão geral das tuas Finanças, controlares os teus gastos e garantires que o teu dinheiro será direcionado de forma inteligente para as tuas necessidades prioritárias. Anota todas as tuas fontes de rendimento mensal e, em seguida, identifica todas as despesas mensais fixas, como casa, alimentação, transporte e/ou outras prestações que tenhas. Inclui, também, as despesas variáveis, como entretenimento e lazer, e despesas futuras que perspetives ter nos próximos tempos, como seguros ou consultas.

Acompanhar este orçamento mensalmente ajudar-te-á a identificar as áreas em que é possível otimizar os gastos.

Estabelece metas financeiras realistas

O crédito pessoal deve ser considerado uma ferramenta para atingir metas financeiras específicas e não uma forma de suprir desejos momentâneos. Antes de contratares um empréstimo, estabelece metas financeiras claras e realistas. Questiona-te sobre o motivo pelo qual precisas do crédito: para cobrir despesas de saúde, investir em educação, realizar obras em casa, consolidar dívidas…?

O exercício de identificar a real necessidade do empréstimo ajudar-te-á a evitar que peças um montante maior do que o necessário, prevenindo assim o endividamento excessivo e garantindo que esse crédito pessoal será utilizado de forma consciente e responsável.

Calcula a tua taxa de esforço

Antes de pedir um crédito pessoal, é imperativo compreenderes a tua capacidade de pagamento. Analisa o teu orçamento e verifica se tens condições de arcar com todas as prestações do empréstimo sem comprometer as tuas despesas fixas e variáveis, anteriormente identificadas.

Lembra-te de que o valor da prestação não deve ultrapassar uma percentagem significativa do teu rendimento líquido mensal. Aqui, falo-te da taxa de esforço: percentagem do rendimento familiar destinada ao pagamento das prestações de créditos que tenham sido contraídos. Idealmente, a taxa de esforço deve ser baixa, recomendando-se que não seja superior a 30%, ainda possa ir até ao limite máximo de 50%. Quanto mais baixa for esta taxa, maior a facilidade que terás em fazer face às prestações do crédito.

Especial atenção aos juros do crédito a contratar

É essencial que estejas ciente das taxas de juros associadas antes de contratar um crédito pessoal. No entanto, para aqueles que nunca pediram um empréstimo, compreender e interpretar certas informações pode ser um desafio. Por isso, é recomendável entender as taxas de juros aplicadas ao empréstimo para conseguir tomar uma decisão financeira informada e evitar surpresas desagradáveis durante o processo de contratação do crédito.

TAN – Taxa Anual Nominal: É a taxa que expressa o valor dos juros a pagar no período de um ano em percentagem do montante do empréstimo. Esta taxa não inclui outras despesas que possam estar inerentes à contratação de um crédito.

TAEG – Taxa Anual Efetiva Global: Esta taxa é um dos pontos mais importantes a avaliar antes de contratar um crédito. Representa o valor do custo total que o crédito tem para o consumidor expresso em percentagem. Ou seja, a TAEG inclui os juros, comissões, prémios de seguro exigidos, impostos e ainda outros encargos associados ao teu crédito.

MTIC – Montante Total Imputado ao consumidor: Corresponde ao montante total que o cliente terá de pagar à instituição durante todo o período do empréstimo. Resulta da soma do montante total do empréstimo com os custos do crédito (juros, comissões, impostos e outros encargos).

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Lê e questiona a minuta do contrato

Antes de assinar o contrato de crédito pessoal, lê atentamente a minuta do contrato e esclarece todas as dúvidas com a instituição financeira. Certifica-te de que compreendes completamente as obrigações, encargos e responsabilidades estabelecidas no contrato. Este cuidado garante que estás ciente de todas as informações relevantes e que tomas uma decisão mais informada e consciente ao contratar o crédito, evitando surpresas ou complicações futuras.

Tem atenção às vendas associadas

Se a instituição propuser a aquisição simultânea de outros produtos ou serviços, informa-te sobre o custo do crédito com e sem essas vendas associadas.

Compara as diversas opções de crédito pessoal disponíveis no mercado

Cada instituição financeira oferece diferentes taxas de juros, prazos de pagamento, condições e benefícios adicionais. Ao realizar uma análise detalhada das opções disponíveis no mercado, terás a capacidade de tomar uma decisão mais informada e consciente, garantindo que o crédito pessoal será obtido nas condições mais favoráveis para a tua situação.

Tem especial atenção a créditos que possam parecer bons demais para ser verdade. Atenta a anúncios apelativos à concessão de créditos e opta por instituições financeiras reconhecidas e credíveis e/ou consultar intermediários de crédito.

Na UniPeople tens intermediários de crédito que te podem ajudar a encontrar as melhores soluções para o teu caso.

Gestão dos pagamentos mensais

Após a obtenção do crédito, é essencial incluir o pagamento das prestações no orçamento mensal. Distribui os gastos de forma equilibrada, para acomodar as prestações do empréstimo, e prioriza o pagamento do crédito, para garantir que este será liquidado dentro do prazo estabelecido.

Atrasos e incumprimentos podem ter efeitos negativos no teu credit score, além de gerar taxas e juros adicionais, que aumentam o custo total do empréstimo.

Caso a tua situação financeira o permita, considera fazer pagamentos antecipados sempre que possível. Ao efetuar pagamentos extras ou antecipar prestações, estarás a reduzir o montante total de juros pagos ao longo do prazo do empréstimo. Isto pode resultar em poupanças significativas, além de ajudar a liquidar o empréstimo mais rapidamente.

Consequências do não cumprimento dos pagamentos

O não cumprimento dos pagamentos do teu crédito pessoal pode acarretar uma série de consequências que podem afetar significativamente a tua estabilidade financeira. É fundamental entender os riscos associados ao incumprimento e tomar medidas preventivas e responsáveis para honrar as obrigações financeiras.

  • Aumento dos juros e encargos: A inadimplência (falta de pagamento de uma conta, dívida ou outra obrigação financeira) geralmente resulta em juros adicionais, multas e encargos. Estas taxas extras podem aumentar consideravelmente o valor total da dívida, tornando ainda mais difícil o retorno à adimplência (estado de cumprimento de obrigações financeiras).
  • Redução da pontuação de crédito e restrições a créditos futuros: A não realização dos pagamentos dentro do prazo afeta diretamente a pontuação de crédito. Uma baixa pontuação de crédito dificulta a obtenção de um crédito futuro, pois as instituições financeiras consideram o histórico de inadimplência como um risco maior de não pagamento.
  • Cobranças e ações judiciais: Em casos de inadimplência prolongada, a instituição credora pode recorrer a medidas mais rigorosas para reaver o valor devido. Isto pode incluir a contratação de empresas de cobrança ou mesmo a aplicação de ações judiciais que resultam em mais despesas e problemas legais.
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Endividamento excessivo: conhece os riscos

O endividamento excessivo é um dos principais desafios financeiros enfrentados. Os riscos associados são diversos e podem ter um impacto significativo em todos os espectros da vida.

  • Aumento do stresse financeiro: Lidar constantemente com dívidas e pagamentos elevados pode gerar grandes quantidades de stresse, o que afetará negativamente o teu bem-estar físico e mental.
  • Diminuição da qualidade de vida: Com a maior parte do orçamento destinada ao pagamento de dívidas, poderá verificar-se o cenário de teres de te privar de certos luxos ou até de necessidades essenciais, resultando numa diminuição da qualidade de vida.
  • Restrição de oportunidades: O endividamento excessivo pode limitar as oportunidades futuras, como aquisição de bens, empreendedorismo ou mudanças de carreira, devido à incapacidade de obter mais crédito ou financiamento favorável.
  • Danos à saúde financeira: Dívidas excessivas podem comprometer a saúde financeira a longo prazo, tornando difícil a realização de planos para a reforma ou outros objetivos financeiros importantes.
  • Impacto negativo no credit score e histórico financeiro: Como já referido acima, atrasos e inadimplências no pagamento de dívidas podem resultar numa queda na pontuação de crédito, o que dificulta a obtenção de créditos futuros em condições favoráveis.

O ciclo de dívida: como evitá-lo e como sair dessa situação

O ciclo de dívida é uma armadilha em que muitas pessoas acabam presas quando o endividamento excessivo se torna uma realidade. Este ciclo ocorre quando a pessoa não consegue pagar integralmente as suas dívidas e precisa de contrair novos créditos para cobrir as despesas correntes, aumentando ainda mais o montante devido e tornando a saída da situação cada vez mais difícil.

  • Para evitar o ciclo da dívida, é fundamental tomar medidas preventivas, como referido acima: criar um orçamento sólido, evitar gastos desnecessários, priorizar o pagamento de dívidas e, caso necessário, procurar ajuda profissional.
  • Para sair do ciclo de dívida, é importante desenvolver um plano de ação. Isto pode incluir: renegociar as dívidas com os credores, consolidar dívidas num único empréstimo com juros mais baixos, ou procurar a orientação de um consultor financeiro para desenvolver um plano de pagamento viável e realista.

Atualidade e previsões do crédito pessoal em Portugal

Com o acesso mais facilitado ao crédito por meio das instituições financeiras tradicionais e plataformas online, o crédito pessoal tem-se tornado uma solução conveniente para fazer face a despesas imprevistas, investir em projetos pessoais e/ou consolidar dívidas existentes.

A tendência de oferta deste tipo de crédito tem sido influenciada por fatores económicos e sociais, como as taxas de juros praticadas pelos bancos centrais, a situação económica do país e a confiança dos consumidores. A evolução tecnológica também tem impulsionado o setor, com o surgimento de novas fintechs e plataformas online que oferecem créditos de forma mais ágil e conveniente.

Segundo as informações do Banco de Portugal, a evolução do crédito pessoal tem sido variável nos últimos meses. Em maio de 2023, existiu uma variação em cadeia do número e do montante de novos créditos de -0,5% em relação a abril de 2023.

No entanto, em relação a maio de 2022, houve um aumento de 19,2% no montante contratado com subvenção para finalidades de educação, saúde, energias renováveis e locação financeira de equipamentos. E, em tempos em que a inflação disparou para valores como não se registavam há várias décadas, o valor total dos créditos contratualizados mostra que os portugueses têm vindo a pedir mais dinheiro para consumo.

Tendo em consideração a dinâmica e flutuações do mercado financeiro, os consumidores devem estar conscientes de que o crédito pessoal é uma ferramenta que requer responsabilidade e planeamento. Ao utilizar esta modalidade de empréstimo de forma consciente e criteriosa, é possível aproveitar todos os seus benefícios para suprir necessidades financeiras pontuais ou alcançar objetivos pessoais, mantendo-te em controlo das tuas Finanças e evitando problemas futuros.

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